Sobre #GrrrrlPower e trocar 6 por meia dúzia (e perder 10 reais no caminho)

02:22

(Via Pexels)
Boa noite, como vão as coisas?

Bem, dia 14 desse mês comecei uma nova fase: cursinho pré-vestibular.
As aulas são de noite, e o único problema se resume ao ônibus que só passa às 23h30. E que é a última linha. E que o cursinho vai até às 22h30.
Ficar uma hora esperando é geralmente só meio tedioso, mas hoje foi tenso: um cara de bicicleta, vestindo um casaco de moletom, nos abordou na parada:
"Eu não tô pedindo. " - ele dizia pausadamente, num tom de voz que deixava claro um "eu tô mandando ".
Ele começou a dizer que estava desde a manhã sem comer, que não tinha dinheiro etc. Só que a forma que cada palavra soava era calma e ameaçadora.

Detalhe: só tinham meninas na parada, naquele momento.

A maioria aqui usa cartão recarregável pra ônibus, eu vou com a grana da passagem na bolsa até o meu ficar pronto.
Ele foi mais direto, disse que nem estava muito acostumado a roubar, então tava pedindo. Sabe aquela história de "nunca reaja num assalto?" então, não eu levei isso a sério. Ele começou a dizer que nós não estávamos entendendo, e eu falei "Não tô mesmo, pode explicar!". Sabe o Simba dizendo ~eu rio na cara do pergo!~? não sejam ele. É perigoso, sério.

O cara respondeu algo como "quer mesmo que eu explique?" e ficou me encarando, olhando nos olhos. Eu, metida, fiquei encarando de volta.
Lembram do moletom que ele vestia? Então, durante todo esse tempo, a mão dele estava num dos bolsos. Simulando eu nao preciso nem dizer o quê, né?

Eu gelei profundamente, fiquei apavorada. Fazendo cara de séria. Morrendo de medo por dentro.
No final, ele "pediu" o dinheiro que eu tivesse comigo, acabei por entregar meus dez reais. Dez dilminhas que eu trabalhei pra conquistar, sabe? Eu não queria deixar ir pro mundo.
Não aconteceu nada, grazaDeus, porém podia. Se o cara fosse mais estressado, a minha cena de ~não tenho medo de nada~ podia ter custado bem mais caro. Mas a gente aprende errando, pelo que dizem.

Depois do ocorrido, fomos pra parada mais próxima, perto de um barzinho conhecido de uma amiga que estava junto. Chegando lá, encontramos mais uma colega, que perguntou o que houve. Combinamos na hora de ficarmos juntas, e irmos nessa outras mais movimentada.

Houveram casos de umas pessoas se finjindo de mendigo pra assaltar, numa praça ao fundo dessa segunda parada, de ônibus, por isso decidimos ir na que ficava em frente à uma iluminada informática (fechada, devido o horário) , perto de um mercado. Foi o clássico trocar 6 por meia dúzia, fugimos de caso pra cair em outro.

É uma sensação de impotência que nao dá pra definir.

Apareceu mais um homem, me asustei.  Era um artista de rua, fazendo ilusionismos e terminando a noite com muita simpatia. Deixou em aberto, quem quisesse poderia incentivar com moedas, trocados. Ah, e até nos ensinou uns truques! :)

O ônibus chegou, subimos. Pagaram minha passagem no cartão de uma delas. Logo, outra garota que ficou sabendo, e é da nossa turma, nos chamou pra perto, pra ver como estávamos. Ficou indignada como se fosse com ela.

Agora que já me acalmei, eu percebo como é bonito ver garotas se unindo, se protegendo. As palavras de preocupação, os "Te cuida, viu?" cada vez que uma descia.

Quando eu digo que empodeiramento é de mulher pra mulher, quero dizer isso: somos mais fortes juntas, por mais que tenhamos sido vulneráveis. Mas, no fundo: mecheu com uma, mecheu com todas.

E sobre aquele triste caso das duas moças que viajavam juntas e foram mortas: foi anunciado e comentado que elas estavam sozinhas, sendo que não! DUAS mulheres andando JUNTAS estão uma com a outra, não sozinhas.
Nós não estávamos sozinhas, estávamos juntas. Mas infelizmente, somos um "alvo fácil". Sinceramente, não sei o que é menos seguro: andar com dinheiro podendo ser roubada, ou só com o cartão do ônibus, correndo o risco do assaltante levar a mochila toda ou pior: se estressar e partir pra violência, como em tantos casos. Pela forma que  insistiu, ele queria levar qualquer coisa.

Pelo menos foi dinheiro, e não um de nós.

Obrigada por me fazerem acreditar, garotas. Se cuidem todos, vocês valem mais do que o que possuem.

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